Nosso objetivo

Este blog tem como objetivo socializar práticas pedagógicas sobre a Formação Pessoal e Social da criança na Creche e Educação Infantil.

É uma atividade proposta pela Disciplina de Educação Infantil do Curso de Pedagogia a Distância da UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO/UAB.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Brinco; logo, existo!

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Maria Aparecida Salmaze

A brincadeira é a principal atividade do cotidiano infantil. Por meio dos jogos lúdicos, a criança constitui valores e identidade.
Quando falamos de concepção de criança e infância, vemos que a sociedade moderna, no imediatismo, na busca do resultado aqui e agora, acaba por acelerar o processo de maturação do indivíduo, fazendo com que cada vez
mais a infância perca seu lugar. Desmerecer o papel da infância e sua importância na formação do indivíduo traz sérias consequências: o jovem forçado a escolher a profissão antes do tempo, o adulto que se infantiliza e não amadurece porque não lhe foi permitido ser criança na época certa.

Influenciar a criança para se tornar adulta, através da mídia ou do discurso dos mais velhos de que ela precisa "deixar de ser infantil", assumir tarefas, dentro ou fora do ambiente familiar, faz com que ela perca momentos importantes de seu desenvolvimento, desconfigurando o brincar em sua essência: o brinquedo perde sua função lúdica ou é substituído por parafernálias eletrônicas, tornando-se simples objeto de status ou poder. Nesse caso, o brincar é substituído pelo tédio e pelo isolamento de não ter o que fazer. Há casos em que se torna obrigação e se manifesta na imposição de que esse ato tenha um objetivo, seja algo que resulte em algum conhecimento "útil", pois senão é desperdício de tempo.

Há um provérbio conhecido que diz ser necessária uma cidade inteira para se educar uma criança. Hoje, essa responsabilidade tem-se afastado do modelo tradicional de sociedade, devido a inúmeros fatores - dentre eles, as novas configurações familiares, a transformação dos valores relacionados ao compromisso dos pais com a educação e o sustento de seus dependentes, que os afasta de um convívio mais próximo com os filhos, os quais correm o risco de perder os modelos sociais de referência imediata.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), no brincar, a aprendizagem dos papéis sociais constrói-se principalmente no faz de conta: "A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o seu eu e sobre o outro" (p. 22), ao externar a fala, quando brinca de ser adulto, a criança incorpora os papéis sociais e apropria-se do conhecimento, de quem é e de quem poderá vir a ser. Segundo Pinto e Sarmento (1997, p. 33):

"Quem quer que se ocupe com a análise das concepções de criança que subjazem quer ao discurso comum, quer à produção científica centrada no mundo infantil, rapidamente se dará conta de uma grande disparidade de posições. Uns valorizam aquilo que a criança já é e que a faz ser, de facto, uma criança; outros, pelo contrário, enfatizam o que lhe falta e o que ela poderá (ou deverá) vir a ser. Uns insistem na importância da iniciação ao mundo adulto; outros defendem a necessidade da proteção em face desse mundo. Uns encaram a criança como um agente de competências e capacidades; outros realçam aquilo de que ela carece".

O brincar, contudo, não é mero método pedagógico. Algumas instituições, buscando proporcionar à criança o direito de brincar, equivocadamente se esquecem de que a brincadeira existe mesmo fora dela. A criança não vai para a escola para aprender a brincar, pois este é um ato voluntário, espontâneo e instintivo.

Devido ao afastamento de pais e filhos, causado pelas exigências do mundo atual, as instituições de ensino acabam por acumular funções que antes eram divididas entre a escola e a família. Assim, no âmbito da educação infantil, muitas vezes o brincar acaba traduzindo-se em planejamentos, registros e rotinas exagerados, fazendo com que a brincadeira transforme-se em uma ditadura do brincar, obedecendo a objetivos específicos e horário certo para terminar.

Não quero dizer com isso que o professor deva deixar de planejar suas atividades ou desvincular o brincar do processo de aprendizagem das crianças. É preciso enxergar a brincadeira como algo sério, que ultrapassa a cultura da escola. Devemos cuidar para que o brincar não se transforme em mais um simples método pedagógico, que reduz sua importância como meio de transmissão de cultura e formação de vínculos sociais. Se isso acontecer, o brincar perde seu valor intrínseco de ser espontâneo e o meio pelo qual o homem descobre a si mesmo.

O brincar como processo lúdico precisa ser repensado de maneira consciente pelos professores em sua prática. Em nossa realidade educacional, observamos inúmeras manifestações por parte dos educadores no momento do brincar: existem aqueles que preferem ficar alheios ao brinquedo, enquanto outros optam por deixar as crianças livres, sem fazer intervenções ou mesmo sem lançar esse olhar observador.

Sabe-se, no entanto, da importância de o educador refinar o olhar sobre as crianças e seus brinquedos, suscitando continuamente questões a serem trabalhadas entre elas, como a interação, a comunicação, a espera do outro e os papéis interpretados em momentos de jogos simbólicos.

É necessário também que esses estímulos ocorram nos locais legítimos de favorecimento da aprendizagem e do desenvolvimento infantil. Wajskop (1999, p. 31), quando discute em seu livro a temática do brincar na pré-escola, afirma que "a garantia do espaço do brincar na pré-escola ou nas creches é a garantia de uma possibilidade de educação da criança numa perspectiva criadora, voluntária e consciente".

Portanto, não devemos esquecer que a brincadeira é a principal atividade do cotidiano infantil e que é por meio dos jogos lúdicos que a criança constitui valores e identidade. Por isso, o educador precisa garantir que elas aprendam a expressar seus sentimentos, a tomar decisões, a desenvolver a imaginação criativa e a perder a timidez ao partilhar brinquedos e brincadeiras.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Vol. 2. Brasília: MEC/SEF, 1998.

SARMENTO, M.J.; PINTO, M. As crianças e a infância: definindo conceitos, delimitando o campo. In: SARMENTO, M.J.; PINTO, M. Crianças, contextos e identidades. Braga, Portugal: Universidade do Minho/Centro de Estudos da Criança, Ed. Bezerra, 1997.

WAJSKOP, G. O brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 1999.

Texto Disponível na Revista Pátio Infantil - http://www.revistapatio.com.br/conteudo_exclusivo_conteudo.aspx?id=33

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